Plantas Daninhas Resistentes na Agricultura
Ao longo dos anos, os produtores agrícolas têm enfrentado mais problemas com relação ao surgimento de plantas daninhas resistentes e tolerantes a defensivos agrícolas, e isso tem ocorrido por uma série de fatores, cujos principais são falta de rotação de culturas e de mecanismos de ação de herbicidas.
Diferença entre plantas daninhas resistentes e tolerantes
Segundo o Comitê de A a Resistência aos herbicidas (HRAC), plantas daninhas resistentes são aquelas que sobrevivem a um herbicida quando deveriam ser controladas em condições normais, ou seja, a resistência é adquirida a partir do momento em que ocorre uma pressão de seleção. Já a tolerância se refere a uma capacidade natural da planta em sobreviver a um determinado tratamento. Assim, plantas tolerantes são aquelas que nunca foram controladas por determinado princípio ativo.
Quais os tipos de resistência de plantas daninhas?
Existem basicamente dois tipos de resistência: Cruzada e múltipla. A primeira refere-se a plantas daninhas que desenvolveram apenas um mecanismo de resistência, sendo resistentes aos herbicidas do mesmo mecanismo de ação (por exemplo, resistência ao glifosato cujo mecanismo de ação é a inibição da EPSPS). A segunda trata-se de plantas que desenvolveram mais que um tipo de mecanismo de resistência e, portanto, são resistentes a mais de um tipo de mecanismo de ação de herbicidas (por exemplo, resistência ao glifosato + 2-4D, cujos mecanismos de ação são inibidor da EPSPS e mimetizador de auxinas, respectivamente).
Qual a planta de mais difícil controle no Brasil?
Com o advento da tecnologia RR, o herbicida glifosato (mecanismo de ação EPSPs) passou a ser amplamente utilizado no controle de plantas daninhas, no entanto isso desencadeou casos de resistência de plantas daninhas, principalmente a buva (C.bonariensis, C.canadensis e C.sumatrensis), planta de mais difícil controle no Brasil no cultivo de grãos (soja e milho, principalmente). Estima-se que 90 % da área do Brasil cultivada com soja é resistente ao glifosato (Dionísio Luiz Pisa, eng. agrônomo da Embrapa Soja). Para se ter uma ideia do prejuízo ocasionado, uma planta de “buva” (Conyza bonariensis) por metro quadrado pode resultar em perdas de 4 a 12 % na cultura da soja (Nortox).
Quais os herbicidas que a buva é resistente?
Para contornar essa situação, herbicidas de outros mecanismos de ação passaram a ser utilizados, entretanto, a buva tem se tornado resistente a outros produtos, além do glifosato (Heap, 2020), e a explicação para isso pode estar no fato de não haver rotação de mecanismos de ação no curto espaço de tempo e a buva ser uma planta com grande taxa de reprodução, produzindo mais de 200.000 sementes por planta (BHOWMIK & BEKECH, 1993), sendo estas facilmente transportadas pelo vento, podendo levar populações resistentes de uma região para outra. Abaixo são listados alguns exemplos de detecção de resistência da buva a diferentes princípios ativos de herbicidas ao longo do tempo:
– Inibidores de ALS (clorimuron-etil) em 2011;
– Clorimuron-etil e glifosato em 2011 (casos de resistência múltipla);
– Inibidores de fotossistema I (Paraquat) em 2016;
– Inibidores de protox (Saflufenacil) em 2017;
– Inibidores do fotossistema II (diuron) e mimetizadores de auxina (2,4-D) em 2017.
Assim, até o ano de 2021, já foram encontrados 6 mecanismos de ação de herbicidas que a buva se mostrou resistente (EPSPS, ALS, PSI, inibidores de PPO, PSII e mimetizadores de auxinas), tornando o controle dessa erva daninha cada vez mais complexo.
Qual o impacto econômico da resistência de plantas daninhas?
Um estudo realizado pela EMBRAPA-SOJA em 2017 buscou estimar o custo de controle de plantas daninhas na cultura da soja quando há resistência ao glifosato e quando não há, como mostra a tabela abaixo:
Tabela 1. Estimativa do custo de controle de populações isoladas ou mistas na cultura da soja com resistência ao glifosato.
A tabela mostra que o aumento nos custos podem ser muito grandes, e isso se dá pois são necessários herbicidas diferentes, que são mais caros do que o glifosato, além do maior número de aplicações. O custo médio de R$120,00 no caso de não haver resistência refere-se a uma aplicação de glifosato na dessecação e duas aplicações na pós-emergência.
O custo mais expressivo ocorre em dois diferentes cenários: capim amargoso resistente ao glifosato e capim amargoso + buva resistentes ao glifosato, podendo aumentar os custos em até 290 % e 403 %, respectivamente.
Ao fazer a análise de toda área de soja do Brasil infestada com plantas daninhas, obteve-se o resultado de que o aumento no custo de controle em função da resistência de plantas daninhas está entre R$ 3.796.540.000,00 a R$ 6.046.500.000,00, com incremento médio de R$ 4.918.820.000,00 ao ano”.
Esperamos que essas informações ajudem em seus estudos.
Até a próxima!
Fonte: https://www.savefarm.com.br/plantas-daninhas-o-impacto-das-plantas-daninhas-resistentes-na-agricultura-brasileira-16