Fenação: técnica prática para armazenar forragem

A alimentação do rebanho é um dos pilares da produção pecuária, e garantir a oferta de forragem de qualidade durante todo o ano é um desafio enfrentado por produtores de diferentes regiões do Brasil. Em períodos de seca ou frio intenso, quando o crescimento das pastagens é reduzido, a escassez de alimento pode comprometer o desempenho animal e a rentabilidade da propriedade.
É nesse cenário que a fenação se apresenta como uma técnica prática, eficiente e acessível para conservar forragens. Ao transformar a planta verde em feno seco e nutritivo, o produtor cria uma reserva estratégica que mantém a qualidade do alimento por meses, sem depender diretamente das condições climáticas.
Neste artigo, vamos entender o que é a fenação, quais forragens são mais indicadas, como é feito o processo passo a passo e quais cuidados são essenciais para garantir um produto final nutritivo e seguro para o rebanho.
O que é Fenação
A fenação é uma técnica de conservação de forragens que consiste na colheita e secagem de plantas forrageiras até que atinjam um teor de umidade seguro para armazenamento, geralmente entre 15% e 20%. Esse processo interrompe a atividade de microrganismos que poderiam degradar o material, preservando assim o valor nutritivo da planta por longos períodos.
O objetivo principal é manter a qualidade nutricional o mais próximo possível da planta fresca, mas em uma forma seca e estável, que possa ser armazenada e fornecida aos animais conforme a necessidade.
Fenação x Ensilagem: qual a diferença?
Embora ambas sejam formas de conservar forragens, existem diferenças fundamentais:
- Fenação:
- Baseia-se na secagem do material até baixa umidade.
- Conserva o alimento de forma aeróbia (na presença de oxigênio).
- Não ocorre fermentação significativa.
- É mais indicada para forragens que secam rápido e mantêm qualidade quando desidratadas.
- Ensilagem:
- Baseia-se na fermentação anaeróbia (ausência de oxigênio).
- O material é armazenado com umidade alta (60% a 70%).
- Preserva nutrientes por meio da acidificação natural.
- Indicado para plantas mais suculentas e volumosas.
Breve histórico
A prática da fenação é antiga, com registros de seu uso desde a Antiguidade em regiões da Europa e da Ásia, onde os invernos rigorosos impossibilitavam o pastejo. Agricultores cortavam gramíneas e leguminosas no verão, secavam ao sol e armazenavam para alimentar animais nos meses frios.
No Brasil, a técnica ganhou destaque em propriedades leiteiras e de criação intensiva, especialmente nas regiões Sul e Sudeste, como forma de garantir alimento de qualidade durante estiagens ou invernos mais longos. Atualmente, com o avanço de maquinários e métodos de secagem, a fenação tornou-se mais eficiente e pode ser aplicada tanto em pequenas quanto em grandes escalas de produção.
Gramíneas mais comuns
As gramíneas são as forragens mais utilizadas para fenação, pois oferecem bom rendimento por hectare e boa aceitação pelos animais. Entre as mais indicadas, destacam-se:
- Capim-Tifton (Tifton 85 e Tifton 68) – Muito usado na produção de feno para equinos e bovinos leiteiros devido ao alto teor proteico e boa digestibilidade.
- Braquiária (Brachiaria decumbens e Brachiaria brizantha) – Adaptada a diferentes climas e solos, apresenta boa produtividade e palatabilidade.
- Capim-Coastcross – Apresenta crescimento rápido, boa qualidade nutricional e facilidade de secagem.
Leguminosas indicadas
As leguminosas possuem maior teor de proteína bruta, sendo excelente complemento às gramíneas. No entanto, exigem mais cuidado na manipulação, pois são mais sensíveis à perda de folhas durante a secagem. Entre as mais utilizadas, estão:
- Alfafa (Medicago sativa) – Considerada a “rainha das forrageiras”, é muito nutritiva, rica em proteína e minerais, indicada especialmente para vacas leiteiras e cavalos.
- Estilosantes (Stylosanthes spp.) – Boa opção para regiões tropicais, com boa resistência à seca e teor de proteína superior ao das gramíneas tropicais.
Critérios para escolha da planta
Ao decidir qual forrageira utilizar na fenação, é importante considerar:
- Teor de matéria seca (MS) – Plantas que atingem rapidamente 80–85% de MS facilitam a secagem e reduzem riscos de mofo.
- Digestibilidade – Quanto mais fácil o animal aproveitar os nutrientes, melhor o retorno produtivo.
- Valor nutritivo – Plantas ricas em proteína, energia e minerais garantem melhor desempenho do rebanho.
- Adaptabilidade ao clima e solo – A espécie deve crescer bem na região e na época de corte.
- Facilidade de manejo – Algumas plantas exigem menos equipamentos ou cuidados no processo de secagem.
Etapas do Processo de Fenação
O sucesso da fenação depende diretamente do cuidado em cada fase do processo. Desde o momento do corte até o armazenamento, cada decisão influencia na qualidade nutricional, durabilidade e aceitação pelo rebanho.
Corte da forragem
Ponto ideal de corte:
- A planta deve ser colhida no estágio de pré-florescimento (antes de formar sementes) ou no momento em que apresenta maior valor nutritivo e digestibilidade.
- Cortes muito precoces resultam em baixo rendimento e pouco volume; cortes muito tardios reduzem a proteína e aumentam a lignina, diminuindo a digestibilidade.
Ferramentas e equipamentos recomendados:
- Para pequenas áreas: foices, roçadeiras costais ou manuais.
- Para médias e grandes áreas: segadeiras, roçadeiras acopladas a tratores ou máquinas de corte com condicionadores (que aceleram a secagem).
Secagem
Objetivo:
- Reduzir a umidade do material para 15% a 20% a fim de evitar fermentação, mofo e perda de qualidade.
Métodos de secagem:
- Natural (ao sol): o mais comum, aproveitando o calor e o vento; exige revolver o material periodicamente para secagem uniforme.
- Mecanizada: uso de estufas, ventiladores ou secadores específicos, garantindo maior controle e menor risco de perdas por chuva.
Cuidados para preservar nutrientes:
- Evitar exposição prolongada ao sol intenso, pois pode degradar vitaminas como a A e a E.
- Revolver o material com cuidado, especialmente no caso de leguminosas, para evitar perda de folhas.
Enfardamento
Após atingir a umidade ideal, o feno é compactado em fardos para facilitar transporte, manuseio e armazenamento.
Tipos de fardos:
- Retangulares (pequenos ou grandes):
- Vantagens: fácil empilhamento, transporte e manuseio; boa aeração no armazenamento.
- Desvantagens: maior uso de mão de obra quando pequenos; máquinas específicas para fardos grandes podem ter custo elevado.
- Redondos (rolos):
- Vantagens: produção mais rápida, manuseio com tratores, boa compactação.
- Desvantagens: menos práticos para empilhar e transportar; se armazenados ao ar livre, sofrem mais com umidade.
Armazenamento
Condições ideais:
- Local coberto, seco, ventilado e protegido contra chuva e excesso de umidade.
- Piso elevado ou sobre pallets para evitar contato com o solo.
Prevenção contra pragas e fungos:
- Inspecionar periodicamente os fardos para identificar focos de mofo.
- Controlar roedores e insetos, que podem danificar o feno.
- Manter a umidade baixa para evitar proliferação de fungos e risco de combustão espontânea.
Vantagens da Fenação
A fenação oferece diversas vantagens para o produtor e para o manejo alimentar do rebanho, contribuindo diretamente para a eficiência da produção pecuária.
Disponibilidade de alimento no período seco
Durante a seca ou nos meses de inverno, quando o crescimento das pastagens é reduzido ou interrompido, o feno funciona como uma reserva estratégica de alimento. Isso garante que os animais tenham acesso a uma forragem de qualidade mesmo quando o pasto natural não está disponível, mantendo a saúde e a produtividade.
Redução de perdas no campo
Ao cortar a planta no momento certo e conservar como feno, evita-se a deterioração natural que ocorre quando a forragem permanece no campo durante longos períodos, sujeita à chuva, pragas e decomposição. Isso significa menos desperdício e maior aproveitamento da produção de forragem.
Preservação do valor nutritivo
O processo correto de secagem e armazenamento mantém boa parte dos nutrientes essenciais da planta, como proteínas, carboidratos e minerais. Assim, o feno conserva o valor energético e a digestibilidade, garantindo um alimento nutritivo que favorece o desempenho do rebanho.
Praticidade no manejo alimentar
O feno, por estar compactado em fardos, facilita o transporte, o armazenamento e a distribuição aos animais. Isso torna o manejo alimentar mais organizado, permitindo suplementar a dieta de forma controlada e eficiente, principalmente em sistemas de confinamento ou suplementação estratégica.
Cuidados e Limitações
Apesar de ser uma técnica prática e eficaz, a fenação exige atenção especial para evitar problemas que podem comprometer a qualidade do feno e a segurança do armazenamento.
Perdas por secagem inadequada
Se a forragem não atingir o ponto ideal de secagem — ou seja, uma umidade entre 15% e 20% — o feno fica suscetível a fermentações indesejadas, mofo e deterioração. Secagem insuficiente gera perdas nutricionais e torna o produto impróprio para o consumo animal. Além disso, a umidade alta facilita o surgimento de bactérias e fungos, que podem causar doenças nos animais.
Risco de combustão espontânea
Um dos maiores perigos no armazenamento de feno com umidade elevada é a combustão espontânea. Isso acontece porque a atividade microbiana no feno úmido gera calor, que pode se acumular e causar incêndios, colocando em risco toda a produção e a propriedade. Por isso, é fundamental monitorar a umidade e garantir ventilação adequada no local de armazenamento.
Perda de folhas em leguminosas durante a manipulação
Leguminosas, como a alfafa, possuem folhas frágeis e são as partes mais nutritivas da planta. Durante o corte, secagem e enfardamento, é comum que as folhas se soltem e se percam, reduzindo o valor nutritivo final do feno. Para minimizar essas perdas, recomenda-se:
- Realizar o corte em estágio adequado, evitando plantas muito maduras.
- Manusear com cuidado durante o revolvimento na secagem.
- Usar equipamentos que preservem as folhas.
Conclusão
A fenação é uma técnica simples, porém fundamental, para garantir o armazenamento eficiente e seguro da forragem, especialmente nos períodos em que a oferta natural de pasto é limitada. Ao entender as etapas do processo, escolher as forragens adequadas e tomar os cuidados necessários, produtores e profissionais podem assegurar um alimento nutritivo e de qualidade para o rebanho, contribuindo diretamente para a produtividade e sustentabilidade da propriedade.
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